A velha estrada continua a mesma. O cascalho gasto mal sustenta meus pés, e eu insisto em caminhar por ele. O sol, que há muito deixou brilhar, faz com que eu deseje seu débil calor. Não há brisa, e muito menos cores. O cinza fúnebre tomou conta de todas as coisas.
Paro e penso sobre onde quero chegar. Não sei. Mas mesmo pelo caminho maltratado, meus pés não cessam seus esforços. Talvez haja algo bom ali na frente, talvez alguma cor. Já não crio expectativas.
Depois de caminhar por tanto tempo nessa estrada, por fim o cascalho acaba. A fraca claridade, se dispersa, e o cinza se torna breu.
Tento olhar ao redor, o negrume que me cerca é sufocante. Penso no fim. Sento-me. Lentamente, começo a desejar que a escuridão me engula, que sua pressão me impeça de respirar e que eu possa descansar um pouco, quem sabe para sempre.
Na mistura de torpor e lucidez, começo a pensar em como as coisas ficaram estranhas depois da infância. Sonhos que se transformaram em cacos reluzentes e foram tragados pelo infinito de um realidade imutável. Lembro de como tudo passou a ter um gosto amargo e azedo. As cores perderam seus tons e a luz se tornou somente um fraco brilho.
Luzes. Muitas surgiram no percurso, algumas fracas, outras muito brilhantes, mas nenhuma capaz de me afastar do caminho tortuoso ao qual estava destinado. E assim eu segui.
Ainda tenho consciência do meu corpo, posso sentir a dor. Finalmente golfadas de escuridão invadem meu ser, não desejo nada mais do que o fim, e espero.
...
...
Mas nada muda. Ainda continuo no chão (quando foi que me deitei?), e me encolho ante a opressão da realidade vivente. Sinto frio, dor, frustração, solidão. Por muito, muito tempo.
...
Subitamente, algo muda. Um calafrio quente percorre minha espinha, meus dedos formigam. A pressão escura se torna mais forte, mas de algum modo encontro forças e me levanto. Longe, muito longe, uma réstia de luz ilumina fracamente uma trilha nas pedras. Levo alguns segundos para descobri que a luz vem de mim.
Expulso as trevas. Recebo o calor. Um novo fôlego enche meus pulmões, e meus pés voltam a caminhar. Tem algo novo no ar, um cheiro de vida.
Não é um caminho fácil. Posso ver, lá na frente, muitas pessoas. Algumas estão sorrindo, outras desconfiadas. Há olhares perversos, há sorrisos confortáveis. Mas não me importo. Algo saiu aqui de minhas entranhas e avança corajosamente rumo ao infinito. Sinto-me tão leve quanto o ar, tenho consciência de que posso voar para as estrelas.
Mas antes, tem eles. Tenho que passar pelas pessoas à minha frente. O calor da verdade em meu interior me infla de coragem para passar por todas elas. Não há medo ou insegurança. Não há máscara ou disfarce. Não há dor ou desespero. Há somente o desejo.
E uma ansiedade feliz pelo caminho à seguir.
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