domingo, 15 de junho de 2014

No rastro dos trilhos de Rubinéia


Tudo começou há alguns dias, quando li uma reportagem sobre as ruínas da velha Rubineia estarem aparecendo por conta da baixa do rio. Achei interessante ver a cidade abandonada antes da inundação, mas vi que uma parte do texto falava sobre a estação de trem.

Eu nunca soube que por algum tempo o trem seguia até Rubineia. Sempre imaginei que fosse só até Santa Fé (antes da construção da Rodoferroviária). Faz sentido, já que pelo visto o trecho foi desativado em 1969, muito antes de eu nascer.

Fiquei curioso por nunca ter achado traços de uma história ferroviária na região, já que os trilhos desviam logo depois de Santa Fé do Sul em direção à ponte. Imaginei que o traçado e os recortes nos morros ainda perdurariam. Fui ao Google Earth e comecei a procurar, na região.



Foi quando, para minha felicidade, encontrei um traçado não natural, semelhante a uma mata ciliar que não poderia existir, devido a altitude. Não poderia ser outra coisa senão o traçado dos antigos trilhos! Reparei que logo antes, o trilho vindo de Santa Fé do Sul fazia uma curva, da qual o traçado continuava reto. Era alí!


Não me dei por satisfeito e decidi seguir até o local para ver com meus próprios olhos, procurar vestígios de que um dia aquela região teve vida ferroviária. No outro dia, peguei minha moto e parti.

Muitos dos lugares estavam inacessíveis, mas consegui, entrando meio de penetra em um condomínio fechado, chegar no primeiro ponto cujo acesso era possível:


Desci até lá, olhei para um lado, para o outro, mas com toda aquela vegetação era difícil definir algo. Então reparei no estranho "morro" que, devido à seca, dividia o rio, criando uma espécie de lago.


Só poderia ser alí. Logicamente que a erosão levou muito do aterramento, mas aquilo claramente era obra humana. Mas eu queria provas. 

Seguindo o traçado, acompanhei até que chegasse em um declive em direção ao rio, com uma estranha "lombada" que o cortava desde o aterro. E então me deparo com a prova que precisava:


Em meio às pedrinhas típicas de beira de rio, eu encontro as típicas pedras britadas que são utilizadas nas linhas férreas. Seguindo com o olhar, elas levam diretamente para o aterro. Portanto sim, outrora o trem passou por ali.


 Resolve seguir o traçado, e me deparo com mais essa visão:


Se observarmos atentamente, é um desnível abrupto de terreno, como se o mesmo tivesse sido recortado. As árvores da beirada indicam que não se trata de uma simples erosão. Junte isso aos meus achados anteriores e temos a continuação do antigo trilho. Mas o melhor estava por vir:


Não sei se é perceptível na foto, mas se trata de uma escavação no morro, logo depois do desnível anterior. Um recorte desse tipo só seria possível com a passagem de um córrego ou rio, mas a elevação da área em questão não permitiria tal evento natural. A água que vemos ali no fundo é acúmulo de chuvas recentes. Mesmo a foto não mostrando, a escavação seguia fazendo uma curva. Eu estava empolgadíssimo, mas simplesmente não havia maneira de descer até o fundo. Resolvi ir para o meu segundo ponto de observação.


Logo ao passar por um bairro praticamente fora da cidade, eu já dei de cara com mais uma área de vala com mata. Pulei uma cerca e fui até o local, dando de cara com a feliz imagem:


Não é uma estrada, nem remotamente é natural. Claro que resolvi andar por ela.


Era bem complicado de andar. Além do chão estar coberto de folhas secas (ótimas para abrigar aranhas armadeiras e cobras), em alguns lugares ele afundava. Confesso que andei com um certo medo. 


Por mais que procurasse, quatro décadas e meia deram conta de acabar com qualquer vestígio de que por ali um dia o trem passou. Há muita erosão, entulho e folhas. 


Mas não importa, é claramente uma escavação por onde passavam os trilhos do trem. 


E consegui afundar e quase perder o tênis na lama que se acumulava no local.  Por isso resolvi sair dali, já tinha o que queria.



Chegando em Rubinéia, as ruínas já estavam novamente cobertas, portanto não deu pra ver muita coisa.

Resolvi dar uma passada rápida na Rodoferroviária:


Mas ainda faltava um local para ver: O lugar onde a linha foi desviada, a curva logo depois de Santa Fé. Peguei a estrada novamente e me enfiei pelas estradas de terra. No caminho encontrei um velho amigo:


Por fim encontrei a curva:


Foi uma delícia andar por ela, e no pasto ao lado, bem onde ela começava, era possível ver a pequena depressão e a trilha de árvores formada pela antiga passagem do trem por ali.


E minha aventura investigativa chegou ao fim. Fiquei muito satisfeito com o resultado, é muito bom ver e respirar a história ferroviária que passou por ali. Amei fazer isso, e pretendo procurar novos lugares pra fustigar. 

Por fim eu e minha fiel companheira de aventuras.


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sábado, 7 de junho de 2014

Vidas de Papel


Vidas de papel, é o que eles levam.
Vidas escritas em papéis velhos
Seguidas cegamente, mas...
Vidas de papel vazio, sem escrita
Baseadas em páginas em branco
De códigos ultrapassados que se foram
Sem chance de escrever suas próprias linhas
Sem chance de se tornar uma dobradura
Pois é mais fácil só existir sobre a mesa
E assim seguem com suas vidas de papel.
Vidas que não duram, nem se sustentam
Pois não passam disso, é só papel.