sábado, 22 de março de 2014

Rumos

E a vida vai seguindo seu rumo.

É curioso como em um dia você está perdido, se desesperando a cada encruzilhada. Deixando que cada chuva lhe faça perder os rastros que teimava em seguir, sem saber exatamente onde estava indo. Sua vida, a cada dia, se remete a circular pelos mesmos caminhos tortuosos, vivendo das pequenas alegrias (verdadeiras, mas finitas) que encontra pelo chão. Como um pombo que cisca por migalhas.

E então, como um estalo, como uma súbita iluminação vinda de lugar nenhum, você para. Para e observa o quanto andou sem realmente sair do lugar. E aquilo te incomoda, profundamente. Se depara com duas únicas opções: sentar-se e ali estagnar para o resto de seus dias, ou tentar sair daquele caminho tão confortável em busca do que realmente é importante.

Novos horizontes assustam. Não é fácil pisar em terras desconhecidas, mas algo te motiva a sair dos trilhos. E descobre, subitamente, que aquilo é o que sempre quis. Porque a luz que enxerga no final desse caminho é tão forte, tão quente, que te purifica de todos os medos, de todas as dores.

Pois que é caminho longo. Difícil. Há pedras, vales e depressões, mas aquela luz... ah, aquela luz. Ela te guia, você a sente mesmo antes de encontrá-la. Ela te fortalece e te renova.

E você segue o caminho que sempre se negou a enxergar. Feliz. Determinado. Ansioso. Abre mão do que achava importante (como era tolo!). Luta, sacrifica-se.

Porque a luz é o seu destino, o seu caminho e tudo o que lhe importa agora. Ela é a única e verdadeira razão do seu viver. Não há escapatória, e você está satisfeito.

domingo, 2 de março de 2014

Vislumbre

São 15h30, e eu paro a moto na calçada. Um pouco cansado, observo que alguma ventania encheu-a de folhas outra vez. Resolvo cuidar disso mais tarde.

Entro pela porta da sala e jogo a mochila no sofá. Imediatamente me censuro por isso, e a guardo no quarto. A casa está como deixei de manhã, afinal ninguém esteve  ali nesse meio tempo. Dou uma olhada na lateral da geladeira para ver o que tinha planejado para a janta: pimentão com carne.

Sento na mesinha do computador e navego um pouco na internet, enquanto as pernas descansam da jornada de 8 aulas seguidas. Me lembro das folhas na calçada e olho no relógio: 16h04. Pego a vassoura e sigo para a frente, enquanto o trem apita na curva lá na frente.

Enquanto varro negligentemente, o trem passa e a fila de carros se forma em frente da casa. Pessoas começam a se aglomerar na calçada, e eu me dou por satisfeito com o trabalho. Volto para dentro. São 16h20. 

Tiro a carne moída da geladeira. Está descongelada por fora, e até o momento de fazer a janta ficará no ponto. Ligo a TV, mas não encontro nada de interessante para variar.

São 16h40, e resolvo descer. Coloco o tênis outra vez e tranco a casa. Passo na padaria e compro um chocolate, ele ficará feliz com o mimo.

Chego na porta da escola e espero, junto com outros pais e mães. Vejo lá no pátio a fila de pequenos vindo. O meu, ao me ver, corre na frente das outras crianças. Eu me abaixo um pouco enquanto ele pula no meu colo, me abraçando forte. Eu retribuo.

Pego na mão dele e vamos caminhando pela calçada, enquanto ele me conta, serelepe, as coisas que fez na escola. Gosto de ouvir esse deslumbramento dos cinco anos de idade perante o mundo. Ele pede para eu carrega-lo nas costas.

Lembro do chocolate e entrego a ele. Ele comemora e desce das minhas costas. Abre o chocolate me oferece. Eu recuso, orgulhoso por ele estar aprendendo a ser educado. Mas então ele joga a embalagem no chão e eu chamo sua atenção. Ele o recolhe, um pouco contrariado, e coloca no bolso.

Em casa, ele corre assistir TV. Eu vou para a cozinha preparar a janta. Não demora e ele aparece procurando alguma coisa na geladeira para comer, alegando estar com fome. Eu digo que ele deve esperar a janta e ele faz bico ao ver o pimentão. Com certeza não é a comida favorita dele.

Digo a ele pra tomar banho. Ele pergunta se pode levar os brinquedo.. Desde que começou a tomar banho sozinho, gosta de brincar no chuveiro. Eu digo que pode, mas ele tem que deixar o chuveiro desligado enquanto brinca.

Dez minutos depois, ele sai enrolado na toalha. Eu inspeciono se ele se lavou direito, e pego uma troca de roupas pra ele.

Resolvo tomar banho, não sem antes pedir que ele pegue os brinquedos que deixou no banheiro. Ele deita no sofá e volta a assistir alguma coisa.

Meu banho é rápido, não gosto de deixa-lo sozinho. 

Jantamos. Pergunto sobre o pimentão, ele diz que está gostoso. Enquanto lavo a louça, ele guarda as panelas para mim enquanto conta mais algumas coisas da escola.

Depois da janta, ele pega suas coisas para fazer a tarefa. Está aprendendo as letras do alfabeto, e deve pintar algumas. Eu dou sugestão de cores.

São 08h00. Ele brinca no chão, e eu sento para brincar com ele. Alguma coisa sobre lutas e veículos, e eu me divirto.

Paro de brincar para assistir ao jornal na TV. Ele quer assistir um DVD infantil, mas eu digo que agora é minha vez de assistir. Ele emburra no sofá, eu ignoro.

Terminado o jornal, vou preparar o material das aulas de amanhã, enquanto ele vê o DVD que queria.

São 22h10, eu estou com sono e decido leva-lo para a cama. Pego o livro de contos que estava lendo para ele, e continuo a história do dia anterior. Estou sentado na cama com ele deitado no meu colo, mostrando para ele as figuras e as palavras que estou lendo. Ele aponta uma palavra simples e lê antes de mim. Quase me derreto de orgulho.

Ele adormece, e eu o cubro com o lençol. Dou uma última olhada antes de sair do quarto. Ele parece um anjinho dormindo daquele jeito. Penso no quanto o amo, e no quanto aquele serzinho mudou minha vida.


Ele é meu filho, meu tesouro mais importante, e a maior aventura da minha vida.